

saxa
loquuntur
as
pedras
falam
EQUIPA:
Giulia Lamoni (Itália, 1977) é curadora independente e investigadora. É membro integrado do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IHA-FCSH). É Doutora em Artes e Ciências da Arte / Estética pela Universidade de Paris I / Panthéon Sorbonne. Entre 2018 e 2022 foi investigadora responsável pelo projeto de pesquisa “Artistas e Educação Radical na América Latina: Anos 1960/1970,” financiado pela FCT. O seu trabalho explora as articulações entre arte e feminismos em Portugal e na América Latina nas décadas de 1960 e 1970, as relações entre a arte contemporânea a configuração de redes artísticas transnacionais, e formas heterogéneas de colaboração e diálogo desde os anos 1960 até ao presente. Os seus textos foram publicados em numerosas revistas, entre elas, Third Text, Manifesta Journal: Around Curatorial Practices e n.paradoxa international feminist art journal, e em catálogos de exposições e livros de instituições como o Museu Berardo, o Centro Pompidou, a Fundação Gulbenkian e a Tate Modern. Foi co-curadora de várias exposições, entre elas “Co-Habitar” (Casa das Galeotas, Lisboa, 2016-2017) e “Earthkeeping / Earthshaking: Arte, Feminismos e Ecologia” (Galeria Quadrum, Lisboa, 2020.) Foi curadora da exposição individual “Eugénia Mussa, Meridiano Pacífico” (Galeria Quadrum, Lisboa, 2017). Foi Brooks Fellow na Delfina Foundation e na Tate Modern Curatorial, em Londres, em 2017. Atualmente, trabalha, como co-curadora, na preparação da exposição “El poder con que saltamos juntas. Mujeres artistas en España y Portugal entre la dictadura y la democracia” que abrirá no IVAM em Valencia em 2023 e no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian em 2024.
Maura Grimaldi (Brasil, 1988) transita entre a pesquisa acadêmica e a prática artística. A sua obra aborda maioritariamente temas relacionados às tecnologias obsoletas a partir da experimentação com dispositivos óticos diversos para refletir sobre a economia da atenção e as formas de subjetivação na contemporaneidade. Igualmente, nos últimos anos tem vindo a trabalhar com temáticas voltadas para questões de género e sexualidade. Sapatão não-binário nasceu em São Paulo (Brasil) onde realizou a sua graduação e o seu mestrado na área das Artes Visuais (Universidade de São Paulo). Foi ainda nos primeiros anos de sua formação que passou a desenvolver os seus primeiros projetos artísticos. Entre suas principais exposições e projetos destacam-se a residência artística em Genebra no âmbito da bolsa oferecida pelo Pro Helvetia / Swiss Art Council (Suiça, 2021), a exposição individual “The work appering in your memory is not mine” na Galeria Virgílio (2018); o programa de acompanhamento crítico PIMASP coordenado por Adriano Pedrosa e Tobi Maier no MASP (Brasil, 2016/2017); a residência HANGAR em Lisboa (Portugal, 2017); PIVÔ Pesquisa (Brasil, 2017); a VI Bolsa Pampulha no Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte (Brasil, 2016); a XI Residência Artística do Red Bull Station (Brasil, 2015); a residência artística no Centro de Arte Jardim Canadá - JACA em Belo horizonte (Brasil, 2014); a exposição A vanguarda está em ti na ocasião dos 55 Anos do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (Portugal, 2014); a residência artística na École Supérieure des beaux-arts TALM-Tours (França, 2013); I Mostra do Programa de Fotografia 2012/2013 no Centro Cultural São Paulo (2012) e a exposição Esquinas realizada no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. (2012). Atualmente, vive e trabalha em Lisboa onde também realiza o seu doutoramento na Universidade Nova de Lisboa. Recentemente apresentou o seu trabalho na Galeria Kubik no Porto e recebeu o prémio da Fundação La Caixa para Apoio à Criação.

"saxa loquuntur [as pedras falam]" é um projeto de exposição de trabalhos da artista Maura Grimaldi, com curadoria de Giulia Lamoni. Desenvolvidos a partir de 2021, durante um período de residência artística na Suíça, os trabalhos aqui reunidos materializam o processo de investigação da artista à volta do universo geológico e do devir mineral, entrecruzando perspetivas científicas, literárias, filosóficas e queer.
Primeira exposição individual de Maura Grimaldi em Portugal, país onde a artista reside, "saxa loquuntur [as pedras falam]" reúne um conjunto diverso de trabalhos: dois filmes, realizados a partir de filmagens 16mm, um conjunto de aguarelas, uma projeção de diapositivos e uma série de fotografias. As peças, que serão apresentadas nos dois espaços da Galeria Diferença (a galeria quadrada e a galeria triângulo), exploram de múltiplas formas o universo geológico, tecendo conexões críticas com outras áreas de estudo tais como a ecologia, os estudos de género e decoloniais.
O filme “saxa loquuntur” (16mm), que dá o título a este projeto, desempenha um papel central na estrutura física e conceptual da exposição. Ao desenvolver a narrativa de um encontro entre duas personagens femininas cujas palavras ligam o campo das ciências da terra ao da afetividade, este trabalho entrelaça linguagem e imagens projetadas de modo a criar um universo poético e subtilmente político. O comportamento das rochas sugere, de facto, modalidades inéditas de pensar o movimento no espaço, a desterritorialização e a migração. Em ressonância com esta reflexão, o filme “Pétrica” (16mm) ensaia um conjunto de encontros entre materialidades aparentemente heterogéneas – o corpo da performer Natália Mendonça (1983), a gestualidade coreográfica de Josefa Pereira (1985), e formações geológicas. Em paralelo, o filme abre um espaço para as palavras da poeta norte-americana Elizabeth Bishop, que viveu no Brasil entre o início dos anos cinquenta e o final dos anos setenta. Em particular, a sua poesia “Vague Poem”, presença importante nesta peça, cria uma ligação entre a mineralidade dos cristais, o erotismo e a cultura queer. A relevância da investigação no processo criativo de Maura Grimaldi – e das suas dimensões simultaneamente práticas, históricas e teóricas – emerge também na série de aguarelas do conjunto “Pedra de Toque”, nas fotografias impressas em “Replicação” e projetadas em “Corrosão” (2014-22 material em transformação). Estes últimos trabalhos, em particular, exploram o devir material do medium, através de vários processos de manipulação, alteração e deterioração, em conexão com a transformação geológica da paisagem fotografada, a Serra do Curral em Belo Horizonte, descrita pela artista como, de um lado, “vista referencial” para a cidade, e do outro, violentamente marcada pelos processos extrativos da indústria mineira. Esta linha complexa que torna a materialidade dos corpos e do mundo – com as suas afetividades – e o pensamento político inseparáveis, atravessa todos os trabalhos que constroem este projeto, dando consistência ao seu propósito. Ao ensaiar um encontro multifacetado com algumas das camadas materiais e conceptuais que constituem o mundo das pedras, das rochas e da terra, os trabalhos que dão vida à exposição “saxa loquuntur” mobilizam corpos e saberes humanos e não humanos, instigando deslocações críticas entre uns e outros e gerando conversas, conflitos e processos de transformação.
A exposição “saxa loquuntur” será acompanhada de um catálogo digital, em acesso aberto, com um texto da curadora, Giulia Lamoni, uma conversa entre a curadora e a artista, e ainda imagens dos trabalhos reunidos neste projeto e do processo de investigação da artista.
Graças ao apoio da Fundação La Caixa, atribuído a Maura Grimaldi por concurso público em 2022, a produção de obras para a exposição conta com um suporte financeiro que permitirá à artista realizar algumas das peças principais que serão exibidas em “saxa loquuntur”. Contudo, para a concretização do projeto torna-se imprescindível a angariação de um apoio que permita financiar o trabalho de curadoria, a produção de textos para a exposição e para o catálogo digital de acesso aberto (Giulia Lamoni), os recursos para a montagem da exposição, que exigirá um cuidado particular nas mãos de Victor Gonçalves (1989), e a organização de uma programação paralela que permita a circulação de alguns dos trabalhos em outros contextos, para além da cidade de Lisboa.
Assim, o projeto prevê três momentos de difusão pública: um encontro/ conversa com toda a equipa do projeto na Galeria Diferença em meados de 2024; a projeção do filmes de Grimaldi, seguida de uma conversa com a curadora e a artista, no CIAJG em Guimarães; uma sessão de apresentação da exposição, com um debate acerca de arte, ecologia e questões de género, em Braga, em colaboração com o grupo GAPS da Universidade do Minho. Estes momentos de encontro e debate pretendem promover a participação de um público diverso.


